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26 de fevereiro de 2013

Dança sobre brasas



Um corredor extenso, muitos portas em cor sépia muito bem trabalhadas com maçanetas douradas, um longo carpete vermelho bordô com linhas também em dourado em suas laterais. Um corredor deserto onde se localizava o quarto onde eu estava hospedado. Após a confraternização que estava acontecendo na cobertura, dois andares a cima, procurei meu quarto por esse corredor. As placas gravadas em madeira fixas em paredes de cor creme, diziam que eu estava no piso correto, eu precisava apenas andar um pouco mais adiante. Era uma festa de gala, eu estava obrigatoriamente trajado de smoking, gravata borboleta - que já se encontrava solta na gola da camisa - e sapatos muito bem engraxados. Já próximo ao quarto, percebo que a porta esta entre aberta, com uma garrafa entre a porta e o batente pra que não fechasse. Com cautela fui entrando, imaginando encontrar o invasor. Aparentemente não havia ninguém no quarto, havia apenas uma garrafa de vinho e duas taças sobre a mesa, o que achei estranho, pois não me lembrava de ter pedido vinho. As portas que davam para a sacada estavam abertas fazendo o vento balançar as cortinas. Não era para estarem abertas. Fui até a sacada ver se havia alguém ali, mas não havia ninguém. Ainda dava pra ouvir a música vindo da cobertura. O céu estrelado e o vento me fizeram esquecer por um tempo a invasão. Logo fui surpreendido por alguém que foi lentamento envolvendo um de seus braços em minha cintura. Pude sentir o perfume suave se misturando com o aroma doce do vinho.
- Dança comigo mais uma vez? - Sussurrou a voz cheia de malícia bem próximo ao meu ouvido.
Ao me virar, meus olhos confirmaram minha expectativa. Olhos verdes acima de uma boca que me convidava para o prazer. Sua pele branca embrulhada em seda preta e seu cabelo vermelho solto ao vento. Rachel Dulivann havia trocado olhares comigo antes de dançarmos juntos a uma hora atrás na confraternização. Mordidas nos lábios já me informavam de suas intenções
- É tudo o que eu quero. - Respondi tomando o vinho da taça que ela segurava.
Nossos braços envolveram nossos corpos. Alguns passos para os lados enquanto nossos lábios se encontravam lentamente. A dança já não estava tão interessante quanto o desejo que nossos olhos demonstravam. Suas mãos deslizavam sobre o meu peito desabotoando minha camisa deixando meu peito nu. Após minha camisa ser lançada pela sacada, ela ligou o som do quarto e nos beijamos até chegarmos na cama. Ela me empurrou para cama e ao som da música começou a dançar fazendo todo meu corpo vibrar. Suas mãos deslizavam em seu corpo. Aos poucos ela foi abaixando seu vestido deixando seus seios rosados a mostra e logo depois pude ver sua lingerie de renda vermelha. Estava seminua, radiante e perfeita. Ela foi se aproximando, ficando de quatro sobre mim, começou a tirar minha calça. Seminu, deitado, queimando por ela. Nossas peles quentes se encontraram aumentando ainda mais nosso tesão. Tornamos um só aquela noite. Gozamos nossas almas em orgasmos. Não vimos a noite passar. Libidinosa. Ao acordar ela ainda estava dormindo. Vesti a pouca roupa que me havia sobrado e notei as marcas e arranhões e minha costa. Selvagem.
Em casa na noite seguinte, ouvi a campainha tocar. Abri a porta e pude ver apenas uma camisa em um cabide com etiqueta.
- Encontraram uma camisa ao lado do hotel Plazares. Talvez seja sua. - Uma voz feminina vinha por trás da camisa. Inconfundível.
A camisa foi descendo me permitindo ver os cabelos vermelhos em chama e os olhos verdes.
- Dança comigo outra vez? - Perguntei a ela.
- É tudo o que eu desejo. - Respondeu ela me beijando enquanto tirava meu cinto.
Nos amamos intensamente sobre as chamas de nossos corpos nus sobre a cama. Dançamos sobre brasas. Dançamos todos as noites enquanto houvesse vida.

23 de fevereiro de 2013

Despojo #2



Continuação de #Despojo

...

Logo ao acordar pela manhã sentiu-se confuso. Forçou seus olhos contra a claridade procurando alguém, após desistir respirou fundo e pegou seu ultimo cigarro de trás de sua orelha. Deixou sua mente vagar pra longe por um momento enquanto seus olhos permaneciam vidrados no cigarro que ia e vinha por entre seus dedos. Nada para pensar. Nada para discutir com o seu eu interior. Sua mente vazia pedia apenas descanso. Acendeu seu cigarro, tragou e soltou a fumaça lentamente. Ele sentiu falta da cerveja correndo em suas artérias, sentiu falta da sua mente alucinada, sentiu falta dos cabelos vermelhos de Alice, que já não estava mais em sua casa. Ele tinha a impressão de que o dia anterior não existira, embora lembra-se de Alice logo pela manha lhe trazendo cerveja, mas, era tudo tão perfeito que parecia não ter acontecido. Os cabelos lisos entre seus dedos, as sardinhas que se moviam quando um sorriso bobo se desenhava em seu rosto quando ele tentava reconquistá-la a cada dia com um piadinha sem graça. Onde está Alice? Talvez deva ter seguido algum coelho falante por aí.
Entediado. Cansado. Confuso.
Andarilho solitário pela casa cheia de nada, decidiu tomar um ar e observar outras mentes confusas na rua.
Sentou-se na calçada em frente a sua casa. A mesma calça jeans, as mesmas tatuagens, a mesma cerveja, o mesmo céu cinzento, a mesma rua vazia. O vento frio anunciava a chuva que logo vinha.
Enquanto assistia uma briga de vizinhos com direito a polícia e toda putaria que rola nessas brigas, percebeu que havia um papel e seu bolso ao procurar mais cigarro. Um pedaço de folha de caderno com linhas pretas, letras em tinta vermelha, traços de Alice: Sei que procura meus olhos, mas esses olhos que agora choram, não encontraram mais seu olhar. Me desculpe. Alice. 
Naquele instante seu corpo parecia ter perdido metade do seu sangue, seu coração pulsava rápido. Colocou a garrafa na boca e deixou a tristeza descer goela a baixo. Não foi suficiente. Sua alma abatida precisava ser liberta. Esperou a lágrima ardente despencar do seu rosto e gritou. Não sei dizer se os vizinhos puderam ouvi-lo gritar, pois era mais dentro do que fora.
Abriu os olhos lentamente e surpreso pôde admirar a perfeição. Olhos negros que o observavam. Sardinhas e uma boca delicada que sussurrava:
- A água já ferveu.
- O que aconteceu?
- Apenas cochilamos, seu bobo.
- Não me deixe outra vez, por favor.
- Do que esta falando?
- Foi um sonho bobo e já não importa mais. Você está aqui.
- Sempre estarei aqui, seu bobinho. Sempre ao seu lado. - Sussurrou Alice enquanto aproximava seus lábios dos dele.
Sentiu sua existência. Sentiu o calor do corpo dela aquecendo sua pele fria. Sentiu seus braços envolvendo aquele corpo frágil. Sentiu o despojo de suas almas. 

2 de fevereiro de 2013

Herói



O herói cansado deitou-se apenas por um momento. Deixou em um canto qualquer sua força e vitalidade. Seus olhos olhavam seu interior, procuravam sinais da existência de alguém ali dentro. Olhos distraídos. O herói buscava entender tantas coisas, buscava sentir tantas emoções que acabou sendo vítima da solidão. O herói cansado, buscou repouso. Desejou se entregar ao nada e ser levado pelo vazio. Seus olhos sempre muito abertos só conseguiam ver as demais pessoas, enquanto o seu próprio reflexo, ele nunca conseguiu ver. O herói sufocado buscou ar. O herói cansado de si mesmo, buscou refugio, não encontrando, decidiu fugir. Deitado em sua cama, o herói se entregou, deixou sua essência se derramar lentamente por entre seus dedos.
Não foi por luta, não foi por honra, nem mesmo por causa nobre. O herói morreu de cansaço.