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23 de fevereiro de 2013

Despojo #2



Continuação de #Despojo

...

Logo ao acordar pela manhã sentiu-se confuso. Forçou seus olhos contra a claridade procurando alguém, após desistir respirou fundo e pegou seu ultimo cigarro de trás de sua orelha. Deixou sua mente vagar pra longe por um momento enquanto seus olhos permaneciam vidrados no cigarro que ia e vinha por entre seus dedos. Nada para pensar. Nada para discutir com o seu eu interior. Sua mente vazia pedia apenas descanso. Acendeu seu cigarro, tragou e soltou a fumaça lentamente. Ele sentiu falta da cerveja correndo em suas artérias, sentiu falta da sua mente alucinada, sentiu falta dos cabelos vermelhos de Alice, que já não estava mais em sua casa. Ele tinha a impressão de que o dia anterior não existira, embora lembra-se de Alice logo pela manha lhe trazendo cerveja, mas, era tudo tão perfeito que parecia não ter acontecido. Os cabelos lisos entre seus dedos, as sardinhas que se moviam quando um sorriso bobo se desenhava em seu rosto quando ele tentava reconquistá-la a cada dia com um piadinha sem graça. Onde está Alice? Talvez deva ter seguido algum coelho falante por aí.
Entediado. Cansado. Confuso.
Andarilho solitário pela casa cheia de nada, decidiu tomar um ar e observar outras mentes confusas na rua.
Sentou-se na calçada em frente a sua casa. A mesma calça jeans, as mesmas tatuagens, a mesma cerveja, o mesmo céu cinzento, a mesma rua vazia. O vento frio anunciava a chuva que logo vinha.
Enquanto assistia uma briga de vizinhos com direito a polícia e toda putaria que rola nessas brigas, percebeu que havia um papel e seu bolso ao procurar mais cigarro. Um pedaço de folha de caderno com linhas pretas, letras em tinta vermelha, traços de Alice: Sei que procura meus olhos, mas esses olhos que agora choram, não encontraram mais seu olhar. Me desculpe. Alice. 
Naquele instante seu corpo parecia ter perdido metade do seu sangue, seu coração pulsava rápido. Colocou a garrafa na boca e deixou a tristeza descer goela a baixo. Não foi suficiente. Sua alma abatida precisava ser liberta. Esperou a lágrima ardente despencar do seu rosto e gritou. Não sei dizer se os vizinhos puderam ouvi-lo gritar, pois era mais dentro do que fora.
Abriu os olhos lentamente e surpreso pôde admirar a perfeição. Olhos negros que o observavam. Sardinhas e uma boca delicada que sussurrava:
- A água já ferveu.
- O que aconteceu?
- Apenas cochilamos, seu bobo.
- Não me deixe outra vez, por favor.
- Do que esta falando?
- Foi um sonho bobo e já não importa mais. Você está aqui.
- Sempre estarei aqui, seu bobinho. Sempre ao seu lado. - Sussurrou Alice enquanto aproximava seus lábios dos dele.
Sentiu sua existência. Sentiu o calor do corpo dela aquecendo sua pele fria. Sentiu seus braços envolvendo aquele corpo frágil. Sentiu o despojo de suas almas. 

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