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17 de novembro de 2013

Além de si mesmo



Esteve fora de si
Talvez possesso
Talvez em coma
Talvez sonambulo
Talvez fosse tudo um sonho
Fez o que jamais teria feito
Fez além do que suas próprias expectativas
Mergulhou profundamente num estado no qual ele não estava habituado estar
Se entregou à situação
Esteve fora de si por uma noite
Foi além do que costumava ser
Fez coisas que viviam presas em seus sonhos
Esteve livre por uma noite
Esteve livre do seu auto julgamento
Fez coisas que talvez um dia se arrependa, mas por enquanto... não
Talvez fosse um sonho, mas não era
Era mais real do que esperava
Fora de si
Embriagado
Feliz

9 de novembro de 2013

A deriva


Vimos o mar se perder no horizonte.
O brilho forte do Sol rastejava sobre a água até nosso barco.
Cantamos juntos uma música qualquer enquanto nos olhávamos.
Um
Dois
Três
Contamos, respiramos fundo, sorrimos e saltamos.
Vi seu corpo envolto de bolhas enquanto procurávamos a superfície.
- Onde está indo? - Perguntava ela sorrindo.
Nadei até o barco, procurei algum lugar onde pudesse agarrar. Subi no barco e reparei seus olhos confusos. Ela ainda estava no mar.
Motor ligado, pronto para se distanciar dali.
Ouvi seus gritos, ela tentou nadar enquanto gritava.
A vi agitando seus braços ao longe.
A abandonei.
Me distanciei.
Deixei minha vida a deriva.
Deixei minha esperança a deriva.

Talvez eu volte.
Talvez eu me arrependa.
Talvez eu encontre seus destroços no fundo do oceano.
Talvez seja tarde.


8 de novembro de 2013

Ela saiu


Ela sai do quarto em salto alto e meus olhos acompanham seu queixo erguido, seus olhos avante, o balançar do molho de chaves de casa em sua mão cheia de anéis, passarem pela porta do meu quarto. Ela já está pronta, atravessa a casa toda e vai até o sofá da sala deixando seu perfume adocicado, que já me deixou enjoado pelo constante uso, em todos os cômodos de casa. Ela senta no sofá aguardando quem a venha buscar. Alguém buzina lá fora.
- La, eles já chegaram! - Grita alguém de dentro de casa.
- Diga que já vou.
Ela ajeita sua curta saia, se olha mais algumas vezes no espelho do banheiro, checa sua carteira e sai, atravessando a sala acompanhada pelos olhos em juízo de seu pai que lançava questões ao vento. Ela bate a porta e sai aos risos.
Saiu em busca da felicidade. Talvez uma dose de felicidade.
Mas eu não me importo com isso, não me incomodo como seus pais.
Talvez eu me incomode sim.
Ela saiu em busca de sua felicidade enquanto a observo deitado em minha cama.

23 de outubro de 2013

De dentro pra fora




Sentiu algo relutando dentro de suas entranhas
Sentiu algo viver dentro de si
Pensou na rotina dos não acontecimentos
Sentiu-se estranho
Dessa vez de uma forma estranha, não como de costume
Dessa vez era mais dentro do que antes
Mais profundo que seus pensamentos rotineiros o faziam crer
Sentiu a agonia do incerto mover suas mãos sobre o abdômen
Sentiu sua musculatura contrair, faltou ar, seus olhos lacrimejaram enquanto sentia algo subir por sua garganta 
Corpo curvado, olhos saltados, berrando ao se ver saindo de si mesmo por sua boca
Sentiu medo
Viu-se esvair
Sentiu-se vazio
Desistiu de si


18 de outubro de 2013

Sonho



Fecho os olhos e me entrego inteiramente ao abismo que cobre com véu negro minha visão.
Fecho meus olhos e abro meus braços a espera.
Sonho.
Surrealista, abstrato.
Peço que torne real minha liberdade.
Seja intenso, me deixe intrigado, me vicie.
Peço que me traga emoções demasiado fortes pra que eu não pense em voltar.

4 de outubro de 2013

Era pra ele ter feito



Era pra ele ter dito sim. Com certeza era.
Era pra ele ter dito fica, só mais um pouco, um pouco mais perto.
Era pra ele ter se movido, alguns passos pra frente.
Era pra ele ter sentido sua respiração, ouvido seu coração.
Era pra ele ter ficado firme.
Era pra ele ter sentido seus lábios.
Era pra ela o ter amado.
Era pro seu coração estar inteiro.

Não era pra ele sofrer ao ver seu sorriso... motivado por outro.

12 de setembro de 2013

Não verei o entardecer


Talvez a escuridão chegue aos meus olhos antes mesmo do Sol se por. Talvez seja cedo demais pra descansar meus olhos, descansar minha alma. Seria estranho demais toda essa confusão em minha mente acabar de uma hora pra outra, num suspiro de liberdade.
A incerteza é tão constante que chega doer os ossos. O vazio é tão intenso que corroí o pouco que há aqui dentro. Mas ao mesmo tempo é sutil, consegue se camuflar em meio a vários dentes a mostra, lábios abertos. Gritos de socorro criptografados em forma de risos, gargalhadas e olhares simpáticos.
A esperança corre entre os dedos como água. Talvez eu não veja o entardecer... As nuvens me esperam.

20 de agosto de 2013

Cópia da cópia

 
 
O despertador berra, você acorda já pensando na desculpa do atraso. Logo o conforto vem e sua mente começa a pensar no próximo final de semana, a angústia então volta em lembrar que não fará nada no próximo final de semana. Sua vida será a mesma e ainda é segunda-feira. O dia não amanhece e o tempo não passa.
A noite chega e o sofá torna-se sua nova cama, seu uniforme torna-se seu pijama e seus problemas tornam-se seus sonhos. Olhos secos e vidrados, respiração cansada e o desgosto que acelera o coração. Talvez agora falte pouco pro final de semana.
 
O despertador berra e você não acorda. Seu corpo caminha pela casa e sua mente começa a pensar na desculpa do atraso. Seu corpo se arrasta até o trabalho. Você percebe o olhar estranho do seu chefe, mas não se importa, afinal, o final de semana está próximo.
Mais um dia se passou e ainda é segunda-feira. Você olha pro calendário se perguntando "Quantas segundas-feiras terá essa semana?" Seus dedos começam a trabalhar por você enchendo seu relatório de abobrinhas , então você percebe no sorriso irônico do chefe que o final de semana já está chegando, faltam só algumas segundas-feiras e mais algumas desculpas pelo atraso.
 
Os dias não terminam, os dias não começam, os dias se repetem. Tudo torna-se cópia da cópia de uma cópia.
 
 

9 de agosto de 2013

Disfarce



Prenda bem o elástico, dê um nó bem firme pra que não estoure. Acomode o elástico de forma confortável próximo a nuca, se estiver muito apertado, desamarre e prenda mais folgado. Os traços do sorriso devem estar bem marcantes na máscara, pra chamar bastante atenção, tente uma cor vibrante ou então um ângulo bem fechado, dessa forma seu sorriso chamará mais atenção que seus olhos inchados e molhados. Talvez você tenha um pouco de dificuldade para respirar com a máscara, mas tanto faz, ninguém se importa. Agora tente fazer algum barulho parecido com uma gargalhada, assim vai parecer autêntico. 
Pronto, agora ninguém irá perceber seu vazio e suas lágrimas.
Sua dor não passará, mas garanto que será mais aceito.

É recomendado que se use a máscara somete ao sair do quarto, ela não será necessária em sua intimidade, pois quem estiver ali contigo em seu porto seguro, saberá o que sente até mesmo inteiramente fantasiado.

Caso esteja só, suas palavras e textos te entenderão.


6 de agosto de 2013

I don't...


Perfeita tela imperfeita



Muitas pessoas transitam observando as molduras espalhadas pelas paredes do extenso corredor. Algumas pessoas curiosas e arrogantes, ousavam entrar em estreitas salas onde algum jovem pintor qualquer pincelava delicadamente sua tela. Mesmo quando não solicitado, elas permaneciam ali, com seus olhões fitados nas mãos do pintor que as vezes tremulavam pelo medo de falhar.
Minha sala estava cheia, cheia de olhos e bocas afiadas. Minhas mãos tremulas tentavam contornar o desenho tremido. Tentei colorir o sol, tentei dar vida ao dia, tentei desenhar sorrisos em rostos vazios. Os dedos corretivos logo surgiram apontando meus traços.
Logo o silêncio se fez presente, as vozes gritavam e julgavam a tela sobre o cavalete, mas nada pude ouvir. 
Algo explodiu de dentro
FODA-SE
Abri meus olhos e pude ver a tela rodopiando em direção ao teto. Algumas pessoas assustadas tentavam sair da sala, outras permaneciam ali tentando entender toda aquela confusão e alguns deles me ajudavam a espalhar tinta por toda a sala. Paredes e pessoas banhadas em tinta, pinceis e telas espalhadas por toda sala, risos, música e dança.
Sem traços, sem medo. Minha sala está cheia de cor.
Perfeita imperfeição do politicamente correto

3 de agosto de 2013

Assim posso estar mais perto



Eu a vi caminhando sobre o calçadão da cidade, tentei desviar meu olhar, mas sua beleza, como sempre, nunca me permitiu olhar pra outro lugar quando ela estava presente. Foi inevitável meu sorriso, foi inevitável minha alegria ao me aproximar dela. Seus olhos refletiam o brilho nos meus olhos, seu sorriso refletia a beleza de sua alma, seu riso refletia sua pureza. Meu coração batia mais forte e mais tranquilo ao mesmo tempo, meus músculos relaxaram e minha pele se tornou mais sensível a brisa, eu estava próximo a ela, eu estava em calmaria.
Ela percebeu o brilho nos meus olhos, percebeu minha alegria transparecendo sobre minha pele.
- Estou em um sonho?
- Sim, isso é um sonho, você está em meu sonho. 
Ela olhou em volta admirando a estranheza de tudo aquilo.
- Porque estou em seu sonho?
- Por que assim posso estar mais perto de quem amo. Posso olhar a profundeza dos olhos de quem mais amo.
Senti um frio na barriga, senti meu coração pulsando ainda mais forte. 
Seus olhos brilharam evitando ao máximo que suas lágrimas corressem, sua mão foi se afastando do corpo e agarrou firmemente outras mãos, seus dedos se entrelaçaram, seus olhos se encontraram, se abraçaram e lentamente foram se afastando.
Senti meu coração pesado rasgar meu interior, pude ouvi-lo estilhaçando.
Foi um sonho, um reflexo da realidade.

13 de julho de 2013

Olhos fechados



Abro meus olhos e logo penso nos olhos que logo cedo estariam me esperando. Olho para as cortinas que já deviam estar balançando ao vento, mas as janelas ainda não estavam abertas como de costume. Me levanto, abro as janelas, mas hoje o Sol não apareceu pra me consolar. Abracei a mim mesmo e me desejei um bom dia. Meus chinelos estavam sozinhos e não havia livros no criado do outro lado da cama. Não havia ninguém ao banho, não havia perfume no ar. Seu lado da cama estava bem arrumado. Uma caneca de café e uma torrada para o café da manhã. Faltou o calor junto ao meu corpo, faltou o sorriso nessa manhã. Seus olhos já não me esperavam mais.
Ela se foi. Voou livremente em um dia ensolarado.
Fechei meus olhos desejando não abri-los mais, pois sabia que essa era a única forma de tê-la novamente.

10 de julho de 2013

Balões







Ser vazio ou ser só?





9 de julho de 2013

Noite doce



Um confortável travesseiro, lençol recém lavado, cobertor macio sobre a pele nua, noite chuvosa, trovões esporádicos que estrondavam na noite cortando o intenso barulho das gotas de chuva que caiam na calha. Temperatura baixa. O corpo quente recém banhado girava na cama procurando a posição perfeita. Braços debaixo do travesseiro, braços caídos da cama, mão no peito, braços abraçados. Deitado de costas, de barriga, de lado, de "conchinha", ao contrário, coberto, descoberto. Deitado de qualquer jeito, abraço com a insônia. Olhos bem abertos olhando o breu enquanto o frio arrepiava os pelos do corpo. Esperei qualquer coisa atravessar minha mente, mas nada além da minha própria imagem deitado na cama. Insônia me abraçando bem forte. Levantei-me trajado apenas de cueca samba-canção e abracei a noite a fora. Fui pro lado de fora da casa e ali fiquei, em pé, apreciando lentamente a doçura da noite. Banhado pela chuva adormeci minha alma.

27 de junho de 2013

A minha procura

 
 
Deixei meu eu sair de mim mesmo, em busca de mim. Saiu por aí, sem destino, me procurou despreocupado. Meu corpo relaxado, descansava enquanto meu eu perambulava pela ruas a minha procura. Onde ele poderia estar? Ele poderia estar em qualquer lugar!

Eu poderia estar em qualquer lugar.
Tentam me encontrar, mas as vezes eu simplesmente não quero ser encontrado. Não sei se estou fugindo ou se estou me defendendo. Talvez eu não saiba onde eu estou.

Talvez eu não saiba a quem procuro.

Talvez eu não saiba quem me procura.

15 de junho de 2013

Olhos imperfeitos, espelhos quebrados.

 
 
Talvez as pessoas não sejam perfeitas para si próprias. Talvez também exista imperfeição aos olhos dos outros ao se enxergarem. Isso me conforta de certa forma, talvez eu não seja o único.
Num mundo cercado de espelhos, uma parede sem reflexo torna-se porto seguro.
O reflexo me devolve o olhar questionador, insatisfeito, o olhar de quem busca no mais profundo da mente e das memorias a perfeição.
Olhar de dentro pra fora é mais difícil, por isso as vezes, a beleza está apenas nos olhos do observador. Cheio de vazio, motivado por olhos que não sabem enxergar.
 
Talvez sejam apenas perfeições sendo vítimas de olhos imperfeitos. Talvez perfeições sendo vítimas de espelhos quebrados.

14 de maio de 2013

Doce utopia



Ainda tenho esperança.
Tenho esperança de um dia acordar e ver um novo Sol nascer. Uma nova estrela aparecer na manhã. Uma nova brisa fresca no rosto. Sentir a atmosfera transformada pela nova era. Pessoas sorrindo e sendo gratas pela gentileza. Pedidos sutis de desculpa nos olhares envergonhados após discussões. Apertos de mão mostrando parceria. Tenho esperança de uma bela manhã. Abraços fortes agradecendo o "bom dia". Olhares cruzados e elogios sinceros. Gratidão de graça. Ainda tenho esperança.

Enquanto a nova estrela dorme, tento realizar minha doce utopia aos poucos.

20 de abril de 2013

Doce abraço



Toda noite a vejo acordada, em pé olhando pela janela. A chamo para cama, mas o silêncio do seu olhar chega ser tão profundo quanto a escuridão lá fora. O vento lento e frio faz as cortinas voarem a sua volta, faz sua pele gélida arrepiar, e no estranho conforto do nada, seus braços se abraçam lhe trazendo um leve sorriso. A chamei novamente para cama, mas ao fechar os olhos por alguns minutos na esperança de vê la na cama ao meu lado, ela desaparece. A porta estava aberta e do lado de fora vinha um triste cantarolar. Lá estava ela em meio a neblina da noite, indo e vindo, cantando suas dores, brincando com a vida a beira do penhasco. Seus pés fitavam o precipício, sua alma se inclinava cantando enquanto seu corpo rodopiava. Lá embaixo o mar parecia acompanhar sua canção, parecia pedir sua alma. Suas mãos foram ao céu e no silêncio seu leve corpo caia de encontro com a maré agitada, um doce e sincero abraço. Após a queda, pude ouvir sua voz cantarolando, sua voz se distanciando cada vez mais.
Ela ainda estava olhando pela janela quando abri meus olhos. O vento lento ainda tocava seus cabelos espalhando seu perfume por todo o quarto. Em pé ao seu lado, notei o medo em seus olhos e as lágrimas que molhavam seu rosto.
- Fica comigo! - disse ela me abraçando - Não acontecerá... Talvez não tão logo, mas não chore caso aconteça. Por favor!
- Não acontecerá! Estou aqui agora!
#To IRIS CAMPOS

13 de abril de 2013

Meu mundo



Olhei para os seus olhos e não eram mais lágrimas que corriam deles, ao invés disso, um sorriso lentamente desenhou-se em seu rosto. No horizonte logo atrás de você, o Sol aparecera acompanhando sua beleza. Sua alegria fez o mundo mais belo.
Seu sorriso começou a se desfazer subitamente, olhos preocupados tomaram conta do olhar alegre e tímido. Sua mão subiu até sua boca, como se não quisesse acreditar no que via logo atrás de mim. Sem entender tentei confortá-la, mas sua postura agora estática em choque me preocupou. Percebi seus olhos indo do céu até ao chão. A grama próxima aos meus pés haviam secado, em seguida pude ouvir fortes trovões vindos de trás de mim, olhei pra trás e pude ver o céu negro se formando, o vento forte e frio, o mar agitado. Nada de anormal pra mim. Meu mundo sendo como ele costuma ser.
Se afastando de mim, suas lágrimas voltaram a cair.

20 de março de 2013

Toda dor passará




Chegará uma hora que tudo isso passará. Tudo ficará pra trás.
Olhares se voltarão para o chão, e enquanto a lágrima estiver caindo, a mente estará nas lembranças, no sorriso e nas brincadeiras que muitas vezes impediram essas lágrimas de caírem tempo atrás. Chegará o momento em que a saudade tomará conta da razão, implorando a volta de quem jamais voltará. Dirão que a chuva sinaliza a tristeza ao partir e a vontade de ficar mais um pouco. O quarto onde dormia, será visitado muitas vezes, na busca pelo consolo. Olhares procuram por algum sinal no céu, as vezes apenas para tentar entender o que houve.
Talvez sinta culpa de ir e deixar muitos pra trás sentindo grande dor. Talvez seja muito doloroso olhar de cima e ver as pessoas, quem eu mais amo, sofrerem por minha causa.
Vozes abafadas pelas lágrimas dirão "sinto muito sua falta".

26 de fevereiro de 2013

Dança sobre brasas



Um corredor extenso, muitos portas em cor sépia muito bem trabalhadas com maçanetas douradas, um longo carpete vermelho bordô com linhas também em dourado em suas laterais. Um corredor deserto onde se localizava o quarto onde eu estava hospedado. Após a confraternização que estava acontecendo na cobertura, dois andares a cima, procurei meu quarto por esse corredor. As placas gravadas em madeira fixas em paredes de cor creme, diziam que eu estava no piso correto, eu precisava apenas andar um pouco mais adiante. Era uma festa de gala, eu estava obrigatoriamente trajado de smoking, gravata borboleta - que já se encontrava solta na gola da camisa - e sapatos muito bem engraxados. Já próximo ao quarto, percebo que a porta esta entre aberta, com uma garrafa entre a porta e o batente pra que não fechasse. Com cautela fui entrando, imaginando encontrar o invasor. Aparentemente não havia ninguém no quarto, havia apenas uma garrafa de vinho e duas taças sobre a mesa, o que achei estranho, pois não me lembrava de ter pedido vinho. As portas que davam para a sacada estavam abertas fazendo o vento balançar as cortinas. Não era para estarem abertas. Fui até a sacada ver se havia alguém ali, mas não havia ninguém. Ainda dava pra ouvir a música vindo da cobertura. O céu estrelado e o vento me fizeram esquecer por um tempo a invasão. Logo fui surpreendido por alguém que foi lentamento envolvendo um de seus braços em minha cintura. Pude sentir o perfume suave se misturando com o aroma doce do vinho.
- Dança comigo mais uma vez? - Sussurrou a voz cheia de malícia bem próximo ao meu ouvido.
Ao me virar, meus olhos confirmaram minha expectativa. Olhos verdes acima de uma boca que me convidava para o prazer. Sua pele branca embrulhada em seda preta e seu cabelo vermelho solto ao vento. Rachel Dulivann havia trocado olhares comigo antes de dançarmos juntos a uma hora atrás na confraternização. Mordidas nos lábios já me informavam de suas intenções
- É tudo o que eu quero. - Respondi tomando o vinho da taça que ela segurava.
Nossos braços envolveram nossos corpos. Alguns passos para os lados enquanto nossos lábios se encontravam lentamente. A dança já não estava tão interessante quanto o desejo que nossos olhos demonstravam. Suas mãos deslizavam sobre o meu peito desabotoando minha camisa deixando meu peito nu. Após minha camisa ser lançada pela sacada, ela ligou o som do quarto e nos beijamos até chegarmos na cama. Ela me empurrou para cama e ao som da música começou a dançar fazendo todo meu corpo vibrar. Suas mãos deslizavam em seu corpo. Aos poucos ela foi abaixando seu vestido deixando seus seios rosados a mostra e logo depois pude ver sua lingerie de renda vermelha. Estava seminua, radiante e perfeita. Ela foi se aproximando, ficando de quatro sobre mim, começou a tirar minha calça. Seminu, deitado, queimando por ela. Nossas peles quentes se encontraram aumentando ainda mais nosso tesão. Tornamos um só aquela noite. Gozamos nossas almas em orgasmos. Não vimos a noite passar. Libidinosa. Ao acordar ela ainda estava dormindo. Vesti a pouca roupa que me havia sobrado e notei as marcas e arranhões e minha costa. Selvagem.
Em casa na noite seguinte, ouvi a campainha tocar. Abri a porta e pude ver apenas uma camisa em um cabide com etiqueta.
- Encontraram uma camisa ao lado do hotel Plazares. Talvez seja sua. - Uma voz feminina vinha por trás da camisa. Inconfundível.
A camisa foi descendo me permitindo ver os cabelos vermelhos em chama e os olhos verdes.
- Dança comigo outra vez? - Perguntei a ela.
- É tudo o que eu desejo. - Respondeu ela me beijando enquanto tirava meu cinto.
Nos amamos intensamente sobre as chamas de nossos corpos nus sobre a cama. Dançamos sobre brasas. Dançamos todos as noites enquanto houvesse vida.

23 de fevereiro de 2013

Despojo #2



Continuação de #Despojo

...

Logo ao acordar pela manhã sentiu-se confuso. Forçou seus olhos contra a claridade procurando alguém, após desistir respirou fundo e pegou seu ultimo cigarro de trás de sua orelha. Deixou sua mente vagar pra longe por um momento enquanto seus olhos permaneciam vidrados no cigarro que ia e vinha por entre seus dedos. Nada para pensar. Nada para discutir com o seu eu interior. Sua mente vazia pedia apenas descanso. Acendeu seu cigarro, tragou e soltou a fumaça lentamente. Ele sentiu falta da cerveja correndo em suas artérias, sentiu falta da sua mente alucinada, sentiu falta dos cabelos vermelhos de Alice, que já não estava mais em sua casa. Ele tinha a impressão de que o dia anterior não existira, embora lembra-se de Alice logo pela manha lhe trazendo cerveja, mas, era tudo tão perfeito que parecia não ter acontecido. Os cabelos lisos entre seus dedos, as sardinhas que se moviam quando um sorriso bobo se desenhava em seu rosto quando ele tentava reconquistá-la a cada dia com um piadinha sem graça. Onde está Alice? Talvez deva ter seguido algum coelho falante por aí.
Entediado. Cansado. Confuso.
Andarilho solitário pela casa cheia de nada, decidiu tomar um ar e observar outras mentes confusas na rua.
Sentou-se na calçada em frente a sua casa. A mesma calça jeans, as mesmas tatuagens, a mesma cerveja, o mesmo céu cinzento, a mesma rua vazia. O vento frio anunciava a chuva que logo vinha.
Enquanto assistia uma briga de vizinhos com direito a polícia e toda putaria que rola nessas brigas, percebeu que havia um papel e seu bolso ao procurar mais cigarro. Um pedaço de folha de caderno com linhas pretas, letras em tinta vermelha, traços de Alice: Sei que procura meus olhos, mas esses olhos que agora choram, não encontraram mais seu olhar. Me desculpe. Alice. 
Naquele instante seu corpo parecia ter perdido metade do seu sangue, seu coração pulsava rápido. Colocou a garrafa na boca e deixou a tristeza descer goela a baixo. Não foi suficiente. Sua alma abatida precisava ser liberta. Esperou a lágrima ardente despencar do seu rosto e gritou. Não sei dizer se os vizinhos puderam ouvi-lo gritar, pois era mais dentro do que fora.
Abriu os olhos lentamente e surpreso pôde admirar a perfeição. Olhos negros que o observavam. Sardinhas e uma boca delicada que sussurrava:
- A água já ferveu.
- O que aconteceu?
- Apenas cochilamos, seu bobo.
- Não me deixe outra vez, por favor.
- Do que esta falando?
- Foi um sonho bobo e já não importa mais. Você está aqui.
- Sempre estarei aqui, seu bobinho. Sempre ao seu lado. - Sussurrou Alice enquanto aproximava seus lábios dos dele.
Sentiu sua existência. Sentiu o calor do corpo dela aquecendo sua pele fria. Sentiu seus braços envolvendo aquele corpo frágil. Sentiu o despojo de suas almas. 

2 de fevereiro de 2013

Herói



O herói cansado deitou-se apenas por um momento. Deixou em um canto qualquer sua força e vitalidade. Seus olhos olhavam seu interior, procuravam sinais da existência de alguém ali dentro. Olhos distraídos. O herói buscava entender tantas coisas, buscava sentir tantas emoções que acabou sendo vítima da solidão. O herói cansado, buscou repouso. Desejou se entregar ao nada e ser levado pelo vazio. Seus olhos sempre muito abertos só conseguiam ver as demais pessoas, enquanto o seu próprio reflexo, ele nunca conseguiu ver. O herói sufocado buscou ar. O herói cansado de si mesmo, buscou refugio, não encontrando, decidiu fugir. Deitado em sua cama, o herói se entregou, deixou sua essência se derramar lentamente por entre seus dedos.
Não foi por luta, não foi por honra, nem mesmo por causa nobre. O herói morreu de cansaço.